Doença Renal

Dr. Hebert Capuci

A insuficiência renal pode ser passageira ou se estabelecer de forma permanente, progressiva e irreversível.
No entanto, quando descoberto de forma precoce, o tratamento pode atenuar ou até mesmo reverter a progressão, evitando que o paciente necessite de diálise, que é a terapia de substituição renal.

Pacientes com doença renal crônica inicial são classificados em estágios que vão desde uma perda leve até uma perda muito avançada da função renal normal. Pacientes com uma perda leve ou moderada, são mantidos no chamado tratamento conservador.

O tratamento conservador consiste no suporte multidisciplinar, orientações dietéticas e intervenções dos distúrbios metabólicos ocasionados pela disfunção renal, através de medicações.

Na maioria das vezes, quando o processo de filtração renal já não é suficiente para manter o paciente em condições adequadas, ele deve ser substituído artificialmente. 

Esse tratamento é denominado terapia de substituição renal e consiste em três possibilidades: hemodiálise, diálise peritoneal e transplante renal.

A indicação dessa substituição renal ocorre quando o paciente possui menos de 15% da função renal normal. O início ocorre de forma individualizada e a decisão sempre é compartilhada com o paciente e a família. 

Da mesma forma, o tipo de terapia ocorre de forma individualizada e participativa com paciente e familiares, conforme seu quadro clínico e estilo de vida

Quais São Os Sinais e Sintomas da Doença Renal?

Nossos rins trabalham de forma semelhante a um filtro de água, eliminando as substâncias ruins e retendo as boas que estão presentes no sangue. 

Quando ele não consegue realizar essa função, todo o corpo fica comprometido e começa a manifestar sinais e sintomas da falência renal, conforme abaixo:

  • Cansaço
  • Insônia,
  • Inchaço nos olhos,
  • Inchaço nos pés, tornozelos e pernas,
  • Nictúria (vontade de ir ao banheiro durante a noite),
  • Mau hálito,
  • Odor de urina,
  • Mal-estar,
  • Náuseas e vômitos,
  • Urina espumosa ou com sangue,
  • Redução do volume urinário
  • Perda de sono
  • Perda de apetite.

Existem Três Tipos de Tratamentos Para Doença Renal

hemodialise

Hemodiálise

dialise peritoneal

Diálise Peritoneal

The doctor holds in his hands the kidney concept design.

Transplante Renal

Hemodiálise

A hemodiálise é um procedimento que permite substituir a função renal em pacientes portadores de insuficiência renal crônica ou aguda. Um volume de sangue é removido do corpo para o sistema extracorpóreo com o auxílio de uma bomba e impulsionado para dentro de um filtro/dialisador, também conhecido como rim artificial. 

O sangue é removido aos poucos para fora do corpo, passa por dentro do dialisador onde é filtrado, retirando as substâncias tóxicas e excesso de líquido. Depois deste processo o sangue purificado retorna ao paciente. 

Todo esse procedimento é realizado através de uma máquina que pesa cerca de 80 a 90 Kg com 1,5m de altura e que fica na clínica de hemodiálise.  Neste processo são retirados os produtos indesejados e também água em excesso, seguido de devolução do sangue filtrado ao corpo.

Para colocar seu sangue dentro do rim artificial, o médico precisa criar um acesso (entrada) em seus vasos sanguíneos. Isso é feito através de uma pequena cirurgia em seu braço ou perna.  

O acesso é feito na junção de uma artéria a uma veia sob a pele para criar um vaso sanguíneo de diâmetro maior chamado de fístula artério-venosa.

Este procedimento, após realizado, requer um período de maturação que pode durar de 30 a 40 dias antes da utilização. No entanto, se seus vasos sanguíneos não forem adequados para uma fístula, o médico pode usar um tubo plástico mole para unir uma artéria e uma veia sob sua pele. Isso é chamado de enxerto (prótese).  

Outra forma de acesso é feita através de um tubo plástico estreito chamado cateter. Esse tipo de acesso deve ser temporário, mas, às vezes, é usado para tratamentos a longo prazo. Este cateter possui eficiência inferior à fístula para a realização do tratamento e é utilizado naqueles pacientes que não tiveram tempo de se submeterem à confecção da fístula. 

Por isso a importância de um acompanhamento do doente renal crônico desde os estágios iniciais.  A hemodiálise é realizada em hospitais ou clínicas de diálise, por profissionais capacitados, sob a coordenação do médico e enfermeiro especialista em Nefrologia.

Em geral, a hemodiálise é realizada 3x por semana, sendo que o paciente deve se deslocar para o centro de diálise e permanecer cerca de 4 horas conectado à máquina, a qual irá fazer as funções principais dos rins através da passagem de sangue por um filtro, como mencionado anteriormente. 

Durante o procedimento, o paciente permanece sentado ou deitado em poltronas específicas, muito confortáveis.  As máquinas apresentam sistemas de segurança com testes, travas, alarmes sonoros e visuais, tudo isso para sua proteção durante o tratamento! O médico realizará a prescrição da terapêutica de acordo com a avaliação clínica e exames mensais (laboratoriais e de imagem) solicitados rotineiramente pela clínica.  

Enquanto o paciente está conectado à máquina, os movimentos são limitados, mas, para se distrair, pode-se conversar, ler, assistir televisão ou dormir um pouquinho!

Quanto tempo os tratamentos de hemodiálise duram?

O tempo necessário para sua diálise depende de: 

  • Quão bem os seus rins funcionam
  • O quanto de peso de fluido você ganha entre os tratamentos
  • O quanto de resíduos você tem em seu corpo
  • Qual o seu tamanho
  • O tipo de dialisador (rim artificial) usado

O tempo padrão de 4 horas e 3x/semana pode ser modificado pelo médico a depender da evolução clínica e laboratorial de cada paciente

Diálise Peritoneal

Processo de filtração através da infusão e drenagem de líquido na cavidade peritoneal (dentro da barriga) por meio de um cateter flexível, sem contato com o sangue. É feita pelo próprio paciente ou familiares em casa. 

Dentro do abdome existe a chamada cavidade peritoneal que é revestida pela membrana peritoneal a qual é altamente vascularizada. 

Essa membrana pode funcionar como um verdadeiro filtro e ser utilizada na diálise peritoneal para retirada das impurezas sanguíneas bem como o excesso de líquido. Para tal procedimento, um cateter é instalado no abdome, na chamada cavidade peritoneal e, através deste, é introduzido cerca de dois litros de líquido de diálise, já preparado e estéril.

O líquido de diálise é fornecido em bolsas plásticas, flexíveis e atóxicas. Este líquido permanece de seis a oito horas no abdome e será trocado de 3 a 4 vezes por dia, todos os dias, ou de acordo com a prescrição médica. Assim justifica-se o nome de diálise contínua, uma semelhança do que acontece com o processo de filtração realizado pelo nosso rim. 

A solução de diálise peritoneal possui, em sua composição, glicose em concentrações variáveis, a qual é a substância osmoticamente ativa que retira o excesso de água do corpo. A glicose, à semelhança do sal, puxa água. 

O paciente ou cuidador, que fará o procedimento, será treinado para tal realização e para correção de problemas que possam surgir. Para maiores detalhes, procure informações com enfermeiro ou seu médico. 

Quem faz as trocas das bolsas da diálise?

Quem faz as trocas das bolsas é o próprio paciente ou um parente próximo, sendo que um enfermeiro ou enfermeira será o responsável pelo treinamento do paciente e de seus familiares para efetuar as trocas. Obviamente, a técnica será revisada periodicamente pelo enfermeiro responsável e o paciente será acompanhado mensalmente pelo médico. 

Quais as vantagens desse tratamento? As vantagens deste tipo de diálise são a limpeza contínua das toxinas do organismo, a realização do tratamento em casa e o ajuste dos horários conforme as necessidades do paciente. Além do mais, a diálise peritoneal proporciona uma melhor manutenção da chamada função renal residual, uma vez que, sendo um processo contínuo, não ocasiona quedas bruscas na pressão arterial do paciente.

Dessa forma, o paciente teria um funcionamento residual renal, que se manifesta através de volume urinário adequado e eliminação razoável de toxinas, por um tempo mais prolongado com a diálise peritoneal. Em outras palavras, o rim doente ajudaria por mais tempo o procedimento de substituição renal na retirada de toxinas do sangue, com a realização da diálise peritoneal. 

Existem algumas desvantagens nesse tratamento?

Como todo tratamento, existem desvantagens, e a principal delas é a possibilidade de ocorrer peritonite (infecção da cavidade peritoneal). O local onde o paciente fará as trocas deve ser muito limpo e vários outros cuidados devem ser tomados. 

▶ DIÁLISE PERITONEAL (CAPD/DPA)  Neste método ocorre a realização de 4 a 5 trocas ao dia, permanecendo cerca 2 litros de solução de diálise por 4 a 8 horas na cavidade peritoneal. O procedimento é realizado de forma manual. 

▶ Diálise peritoneal automatizada (DPA)  É realizada com o auxílio de uma máquina chamada cicladora, que é utilizada, geralmente, durante o período noturno.  Na DPA o processo de troca de solução é automático e a solução de diálise é trocada de 3 a 5 vezes durante o período. 

Na cicladora é programado o tipo de tratamento, o tempo de permanência, o volume de solução, o tempo de drenagem e o número de ciclos que se deseja fazer. Todo esse procedimento é realizado enquanto o paciente está dormindo, o que a torna um método muito interessante e confortável.

Transplante Renal

É uma alternativa para substituição do rim em falência. O transplante renal começou a ser utilizado de forma efetiva para tratamento a partir da década de 60.  O procedimento é realizado enxertando cirurgicamente um rim doado por um familiar em vida ou por uma pessoa que teve morte cerebral diagnosticada e a família autorizou a doação. 

Ao se utilizar o rim de outra pessoa, o organismo receptor estabelece, de forma natural, uma reação imunológica contra o órgão doado. 

Este foi um dos maiores empecilhos no passado contra a doação de órgãos. Com o advento de potentes drogas imunossupressoras, a partir da década de 60, o transplante renal passou a ser uma alternativa viável de substituição renal, conforme já mencionado. 

O transplante renal é a melhor forma de tratamento para reabilitação socioeconômica do paciente com doença renal terminal. Está associado a uma melhor qualidade de vida, maior sobrevida em relação à hemodiálise e diálise peritoneal, menores taxas de complicações a longo prazo. 

O paciente necessita de fazer utilização, por todo o período que durar o transplante, de drogas imunossupressoras, o que pode ocasionar imunossupressão grave e suscetibilidade à infecções.  Além do mais, se o paciente deixar de utilizar tais medicações, há rejeição aguda com perda do funcionamento do rim transplantado e necessidade de retorno do paciente à diálise peritoneal ou à hemodiálise.  

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